Passei 20 anos em agência brifando produtora de áudio. Agora, sigo brifando produtora de áudio.
A WeJam me chamou para ser Diretor de Criação aqui com uma única responsabilidade: fazer o que eu quisesse. Claro que a minha experiência em agências como JWT, Leo Burnett, W/Brasil, Publicis e outras entrou na conversa.
Sempre trabalhei muito próximo das produtoras de áudio como criativo de agência. E quase sempre saí achando que trabalhávamos errado. O áudio era comoditizado, um detalhe do processo de pré-produção em que mal e mal se ouviam referências na ppm. Aí, com offline pronto é que os participantes prestavam atenção na trilha, na maior correria para apresentar tirar algo da cartola em uma virada de noite.
Por que não começar a trabalhar antes? Enquanto o pessoal faz scout de locação a gente busca instrumentos raros. Enquanto fazem cast de atores a gente faz de vozes totalmente desconhecidas, e por aí adiante.
Tratamento com foco no áudio
Nós trabalhamos com comunicação. Fazemos áudio, mas servimos à ideia. Por isso ao embarcar em qualquer trabalho nosso primeiro passo é fazer um tratamento com foco no áudio, que mostre para os criativos da agência nosso entendimento da ideia.
Então, junto com o Oswaldo Sperandio (nosso maestro), Rodrigo Prado (produtor executivo) e Plínio Hessel (engenheiro de som), o diretor de criação Gustavo Soares elabora um tratamento para o roteiro. Não se trata apenas de referências musicais - isso também faz parte do tratamento, claro - mas de como podemos vamos trabalhar a sonoridade do filme. Sons incidentais? Que tipo de instrumentos vão compor a trilha? Dá para incorporar o som à ação (podemos filmar o protagonista dando play num equipamento durante a cena e isso ser o início da trilha?).
No exemplo abaixo, criação da Africa para 99app, ao lermos o roteiro escrevemos um tratamento com diversas referências de cinema (como essa, de Annie Hall) que serviram de recomendação.
Não há trilha, somente sound design para criar a atmosfera mais realista possível. Assim, quando acontece a interferência surrealista na história, ela fica mais engraçada ainda. E levanta a bola pra assinatura que virá em seguida.
A seguir dois dos filmes que já foram ao ar. Apenas sound design, para reforçar o surrealismo e aumentar o impacto da piada surrealista.
Proximidade com as produtoras de imagem
Nosso diretor de criação é próximo de muita gente nas produtoras de imagem, com quem mantém relações pessoais. Isso nos dá liberdade de mandar um zap às 22h para um diretor amigo e está produzindo o filme para pedir opinião sobre o caminho musical que vamos seguir. E para receber referências dele, trabalhar com muito mais objetividade.
Na hora da apresentação para a agência, o áudio está integrado à imagem. Já há entendimento sobre o ritmo do filme, o mood das cenas, o tom da locução e a quantidade de texto. O trabalho sai ganhando, e o relógio de todo mundo também.
Nossa música é a nossa referência
Quem tem tempo para baixar e ouvir aquela pastinha com 20 músicas? A agência precisa de certezas mais do que referências. Nós discutimos o caminho na fase de briefing, e a partir daí trabalhamos com música original. Na nossa visão do processo de produção a música é alicerce, não complemento. E não só nas trilhas comerciais - para um grande projeto experiential desenvolvido com a Vetor Zero, não bastava criar música. Ela tinha que ser interativa, e para isso nos juntamos ao fabricante de hardware para customizar todo o equipamento e garantir cada nota na posição exata.
Temos ouvido absoluto para novas ideias
Partindo de uma trilha de 30 segundos criamos uma solução digital em parceria com o Spotify e agência.
Na gravação de um single tivemos a ideia para um áudiobook binaural que é um spinoff da música e vai representar um novo formato de mídia [LANÇAMENTO EM 2019].
Queremos expandir nossa atuação a cada novo trabalho, porque é isso que alimenta a nossa criatividade. Queremos trocar ideias com gente que também busca o diferente. E mostrar que o espírito da Jam session não está no nosso nome por acaso.